Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Antonio de Albuquerque
"Fragmentos do Livro Cauré"


 
Batalha dos insetos


O encantamento de Cauré e seu cachorro trovão, personagens desse conto se deu num sublime momento na floresta, quando eles se alimentaram de um fruto desconhecido que os tornou encantados e puderam entender e falar com árvores, água, plantas medicinais,  elementos encantados da floresta, Duendes, Gnomos e animais, enfim, com tudo que envolve a floresta. Daquele momento em diante conheceram toda a complexidade da floresta e dos Astros que por eles se guiaram. Sua história é imensa e noutra ocasião contarei tudo.

Ao visitarem uma bela comunidade de Duendes e Gnomos, foram informados que homens maus destruíam a fauna e a flora. Cauré não tinha mais dúvidas, predadores queimavam a floresta e matavam os animais. Teria que tomar providência urgente, para tanto convocou uma reunião com as lideranças da floresta, entre tantas; onças, macacos pássaros, formigas, abelhas, aranhas, cupins, piranhas carnívoras e répteis diversos os quais seriam representados por uma ariranha do meio aquático. No dia seguinte as lideranças chegaram de mansinho tomando seus lugares, vindo até alguns que não foram convidados como a raposa e o carcará. Reunidas, as lideranças discutiam estratégias de como poderiam enfrentar os predadores.

Cauré se dirigiu aos presentes, dizendo: ─ É do conhecimento de todos que homens gananciosos estão derrubando a floresta, depois queimam o que resta para fazer pasto e criar animais, fazer campo para plantar cereal ou mesmo cana-de-açúcar para produzir etanol. Não respeitam as normas legais, se não tomarmos providências enfrentando os predadores em breve a floresta se transformará em savana e não haverá mais espaço para nós. Homens maus estão destruindo a fauna e a flora, eles não têm consciência do mal que causam à humanidade por serem dominados pela ganância do enriquecimento ilícito. Então, proponho que nos organizemos qual um exército para enfrentá-los, afastando-os da floresta e fazendo com que entendam a importância da preservação ambiental. Somos tão pequenos, nos destruirão, disse uma formiga. Cauré respondeu dizendo: ─ Somos pequenos, mas unidos, e com boa estratégia +podemos vencê-los, vamos nos organizar. Essa ilha será o nosso centro de operações.

Trovão estará à frente de um batalhão de combatentes, composto por onças e macacos. Seis águias farão o reconhecimento do local onde estão localizadas as madeireiras clandestinas. As formigas, cupins, ariranhas, cobras, jacarés e muito mais, estarão sob o meu comando, disse Cauré. O carcará que a tudo observava mesmo sem ser convidado, pediu a palavra e falou: ─ Isso não vai dar certo, onça e macaco nunca se entenderam, como agora, eles lutarão juntos? Eles são muito poderosos, dizem até que têm proteção de algumas autoridades. Cauré respondeu dizendo: Desça dessa imburana e venha juntar-se a nós, essa luta é para defender a floresta, portanto é sua também. Eu não sou de briga, não me alimento com vegetais, esperarei um descuido de alguém, aí eu pego mato e como, disse o traiçoeiro carnívoro.  Se descer daí, verás que quem te pega sou eu, falou o zangado Trovão.  Chega de arenga, disse Cauré. A sagaz e inconfiável raposa, mesmo presente não tomou partido, certamente esperaria se unir a quem vencesse a batalha, literalmente estava em cima do muro. Assim é o comportamento de alguns humanos que não amam a natureza e já destruíram as florestas, mataram os animais, poluíram as águas e o ar no lugar aonde vivem, e hoje nem se comprometem lutar contra as queimadas e derrubada das florestas.

Era manhã quando as águias chegaram, fazendo um relato completo da área ocupada pelos madeireiros, nem haviam colocado nada no bico, naquele dia. Cauré junto com seu estado maior começou a definir o plano de ação da seguinte forma:  Em dois dias estaremos próximos ao acampamento. A primeira ação será efetuada à noite silenciosamente pelos Cupins e formigas que entrarão em ação, destruindo todo o equipamento de madeira que existir nos galpões: mesas, cadeiras, cabo de ferramenta, carrocerias de caminhões e as estruturas dos galpões. Próximo do acampamento, mas guardando uma boa distância, as onças urrarão com um estrondo mais ameaçador possível para desorientar os madeireiros. Enquanto isso os macacos invadirão os depósitos de mantimentos destruindo os suprimentos, os répteis estarão visíveis para amedrontar os homens, nas águas estarão às ariranhas e jacarés. Feito isso, todos retornarão e pacientemente aguardarão novas ordens. Duas horas depois da retirada, voltaremos ao ataque com as abelhas, à noite nos afastaremos regressando para a nossa base, como manda a cartilha de guerra na selva; atacar e recuar.

Observando as motos serras cortando árvores, homens incendiando a mata, tratores puxando caminhões com madeira ilegal, via-se um cenário  feio e triste. Com certeza haveria outros acampamentos ao longo da floresta, mas os ataques seriam planejados e feitos por etapas. Os madeireiros poderiam até não desistir da empreitada, mas certamente teriam muito trabalho enfrentando aquele determinado exército de animais e insetos, e por certo diminuiriam o ritmo de desmatamento. Essa era a ideia de Cauré, que aguardava o momento certo para dar início a uma meticulosa ação sobre aqueles homens malvados. Cauré transitava entre os homens do acampamento, aproveitando poderes de encantado para se tornar visível quando conviesse, assim estava livre para planejar a defesa. Ao usar a ética como bandeira maior em suas ações, não consentiria um massacre, comportamento que desagradava as nobres piranhas que com dentes afiados esperavam o momento decisivo. Cauré procurava sofrear aqueles instintos carnívoros por ter compromisso com a paz, jamais permitindo mutilações provocadas pelas famintas piranhas. Aqueles homens não tinham noção do crime que praticavam e depois de uma boa lição poderiam reconhecer o erro e transformarem-se em defensores da floresta. Trovão pensava que os madeireiros deveriam ser colocados no lago junto com as piranhas, não considerava que muitos deles poderiam ser apenas empregados dos madeireiros. Trovão era contido em suas ideias por Cauré, amante da paz.

Formigas e abelhas penetraram na área a ser queimada e em todo o acampamento solicitando aos animais e insetos que se retirassem, em seguida foi dado início à operação. As formigas em bandos de milhares e milhares iniciaram a destruição dos mantimentos e os armazéns de madeira. Para tanto, contaram com o auxílio dos amigos cupins destruindo os cabos das ferramentas e carrocerias dos caminhões. As formigas bem organizadas trabalhavam em perfeita harmonia com os cupins, mas a operação estava apenas começando, muita batalha ainda viria pela frente. Após dois dias foi à vez das abelhas, atacando o capataz e empregados do escritório, passando por cima de papéis destruídos pelas formigas e cupins. Os homens ferrados gritavam de dor e pulavam na água de um lago, onde eram surpreendidos por piranhas e répteis, que num gesto de obediência a Cauré, apenas amedrontavam suas presas, embora em alguns momentos mordessem seus bumbuns. Desesperados os homens corriam pelas veredas das matas, onde eram atacados mais uma vez pelas abelhas e amedrontados pelo esturro das onças. As abelhas atacaram os tratoristas e caminhoneiros que conduziam madeira ilegal, os quais desesperados foram obrigados a largar as máquinas e correr na busca de abrigo seguro.

Homens tentaram fugir em caminhões, mas os veículos estavam praticamente destruídos. Era noite quando os macacos vieram ao local para danificar instalações e incendiar os galpões, usando fogo que queimava nos fornos onde ilegalmente era produzido carvão. As instalações estavam destruídas. Nessa batalha os madeireiros perderam e Cauré festejava a vitória. Os madeireiros resolveram reagir, colocando fogo na floresta, porém milhares deles já haviam se distanciado, embora alguns fossem dizimados pelo fogo inimigo. As formigas se protegiam em lugares previamente estabelecidos, pois sabiam que a reação dos predadores seria cruel. As raposas que sempre se mantiveram afastadas aproveitaram para furtar alguns restos de mantimentos que sobraram na confusão, mas quase nada encontraram. Os carcarás do alto de um mulateiro comentavam entre si:  Depois da batalha veremos o que sobrou para nosso almoço.  Aconteceu do jeito que nós pensávamos, bem que eu disse que não daria certo. Ainda bem que não nos envolvemos nisso.  Ah que vida boa a nossa! Aquelas raposas faziam parte de um grupo de criaturas que não se importam com a preservação do meio ambiente. As raposas e os carcarás não queriam admitir a vitória dos habitantes da floresta, mas fora um sucesso, sim. Por muito tempo não haverá gente desmatando naquela região, pois outras lutas acontecerão até eles adquirirem consciência da importância da conservação da fauna e flora amazônica. Em breve o mundo se conscientizará que as florestas são responsáveis pelo equilíbrio do planeta, sendo sagradas.

Provavelmente os madeireiros voltariam para colocar veneno na área, mas existia a possibilidade de as autoridades perceberem o movimento e virem detê-los. A missão estava cumprida, mas por muito tempo a luta continuaria em defesa do meio ambiente. Se necessário Cauré e sua gente, quer dizer, seus bichinhos, voltariam a qualquer momento, em qualquer lugar da floresta para dar combate aos maldosos predadores. Agora, Cauré contava com um exército organizado. Estava confiante e na próxima vez, com a experiência adquirida nesse campo de batalha, contaria com um exército mais poderoso. A notícia se espalhou pela floresta, haviam descoberto um meio de combater os predadores. Cauré continuou procurando a cidade encantada.
 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 16/10/2018
Alterado em 23/03/2019
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