Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Antonio de Albuquerqu
Revelando Mistérios da Floresta 

Era madrugada, o comandante Ubiraci aquecia a aeronave, ciente que voaria por quatro horas procurando chegar a cabeça do cachorro, local próximo a São Gabriel. Piloto e passageiros se reuniram em baixo da aeronave, falaram alguma coisa do plano de viagem e decolaram. Ubiraci é um habilidoso piloto, conhecedor do extremo norte, Ailã e Anagé grandes mateiros da floresta. Em breve Pedro estaria reunido a Rudá em algum lugar no Pico da Neblina, espaço mais alto do Brasil, localizado no extremo norte, próximo à cabeceira do caudaloso Rio Negro. Após diversos pousos nos rios chegaram a São Gabriel, um belo e misterioso lugar entre cachoeiras, corredeiras, ilhas, montanhas e santuários. Onde seus os habitantes falam diversos idiomas; Português, Nheengatú, Tucano, Baníua, Baré e outros dialetos, ensinados nas escolas da região.

Com uma população quase toda indígena São Gabriel tem uma  cultura milenar, é uma cidade marcada por instituições de ensino com a presença das Forças Armadas Brasileiras e dos educadores salesianos ricos na arte de ensinar. Esta região também é rica em mistérios e segredos, ao longo de milhares de anos, desde a sua formação, antes mesmo do surgimento da Bacia Amazônica.

Após mostrar às credenciais as autoridades e guardar a aeronave, dirigiram-se ao hotel. Todos estavam exaustos, Ailã e Anagé mesmo sentindo ânsia de vômito por não serem dados a viagens de avião, após o jantar se ausentaram para conhecer a cidade. Pedro e o comandante Ubiraci permaneceram no hotel planejando afazeres para irem ao encontro de Rudá, um homem misterioso que Pedro não conhecia pessoalmente, mas para ali viajou com essa finalidade.

Às quatro horas da manhã já estavam preparados e Ailã já tinha um Landerrower abastecido, pronto para a viagem. Serviam o café da manhã quando se apresentou uma mulher falando em Baniwa, dizendo chamar-se Lacina pedindo para participar da missão até a área do Pico da Neblina. — Como você sabe que vou ao Pico da Neblina? Perguntou Pedro. — E quem é você? — Eu Sou Lacina nasci e vivo nessa região, e também sei o que procuras. — Como você sabe de mim e da expedição? — Ora seu moço, a cidade é pequena e o bem-te-vi traz as notícias boas, respondeu a moça. Estranho Lacina saber o nome de Pedro, entretanto a expedição não era secreta, e qualquer um poderia saber da sua existência.

Consultados, os expedicionários consideraram relevante à companhia da misteriosa mulher que embarcou e o Landerrower lotou. Estavam no caminho a Ya-Mirim, e por indicação de Lacina, por um atalho economizaram tempo chegando ao meio dia. Em Ya-Mirim deixaram o Landerrower e numa lancha especial viajaram a comburis onde acamparam. Na manhã seguinte Lacina indicou uma direção segura e eles chegaram a Bebedouro Velho,  onde tiveram contato com; Javalis, Antas, Jacarés, Jaguatiricas, Onças pintadas, Negras e uma infinidade de outros animais da Amazônia, de raríssima beleza, e a viagem tomou forma. Era noite, e antes de dormir, festejaram o sucesso da viagem com uma oração.

Chovia e exaustos se recolheram às barracas de lona. A temperatura baixou para onze graus e procuraram se proteger do intenso frio. Finalmente haviam chegado próximos ao Pico da Neblina, e olhando para cima só enxergavam nuvens escuras e pesadas, sinal de chuva e frio, com a temperatura baixa os expedicionários se recolheram às suas barracas.

Lacina chegou à tenda de Pedro, e anunciou: — serei sua guia daqui para frente até chegarmos à presença de Rudá. Pedro nada respondeu visto que ficou embasbacado, nem sabia o que falar, até então não havia prestado atenção na beleza daquela mulher, e mirando seus olhos sentiu uma energia limpa e misteriosa, estava diante de uma mulher belíssima, que por ela se encantou, experimentando assim, imensa alegria e felicidade que o fez viajar para outra dimensão sem lembrar as desventuras que um dia sentiu. Tudo em Lacina era sonho e encantamento, ela  invadiu à sua consciência, penetrando no íntimo da sua mente congestionada de pensamentos. Pedro quis tocar seu corpo, mas foi desencorajado em virtude de sua expressão de pureza e voz envolvente parecendo ecoar no Universo.

Pedro foi envolvido por luminosos raios de luz, quando perguntou? — Quem é você? — Sou servidora da casa de Rudá e ainda hoje chegaremos à sua presença, sem mim você jamais chegaria lá, com sorriso encantador respondeu a bela mulher — Por que ainda não nos conduziu a sua presença? — Dele você obterá a resposta, respondeu Lacina. — Ao raiar da manhã seguiremos uma trilha, após duas horas estaremos com ele. Ailã e Inagé, desmatando caminhavam à frente, Lacina indicava a direção e os mateiros abriam espaço entre sororocais e palmeirais. Eles estavam guiados pela força misteriosa da floresta, eles pareciam não tocar na Terra coberta por folhas e pequenos insetos que ignoravam a presença dos expedicionários.

Era manhã radiante e encantadora, o Sol brilhava num céu azul dando aos sentidos a deslumbrante manifestação da Natureza banhada de luz. A cada momento a estrada se enfeitava e Pedro flutuava sobre pequenos arbustos contemplando belíssimos pássaros na copa das árvores e em pequenos espaços, com água peixinhos coloridos nadavam se acarinhando, e Pedro sentia a expansão da sua memória desvendando mistérios da natureza e caminhando por entre cachoeiras e frondosas árvores cobertas de flores, Pedro observou a suntuosidade de uma Samaúma, indo além das nuvens como se estivesse ligada diretamente às estrelas e sentiu imensa alegria. Estava num santuário, cujo cenário era a própria Natureza, plena de segredos e mistérios, ambiente de pura energia se espargindo sobre a brisa encantada e suave da manhã em sorrisos de Luz.

Os expedicionários foram envolvidos pela luz da manhã vestindo o manto do amor e com olhos marejados de alegria testemunhavam os raios luminosos se transformando em cristais translúcidos, formando, assim, um castelo enfeitado com árvores e flores em forma de luz dourada, chegando leve tal um aroma. Cascatas de luz surgiam entre jardins suspensos num espaço colorido e arco-íris se projetavam no céu atapetado de Astros e Estrelas. Sorrindo Rudá se apresentou, e Pedro sentiu sua energia de puro encantamento. −A mensagem que entrego é para mostrar a dimensão da Natureza, e dizer que pelo pensamento o homem pode penetrar e entender o Universo buscando conhecimento, e sentindo a energia positiva que emana do Criador, construindo a paz para fazer frente uma ordem maléfica que está sujeita a surgir na Terra a qual só poderá ser destruída pela paz entre os homens.

A nova ordem maléfica é tão perversa que estará sujeito a desconstruir a moral e a ética, conduzindo o homem a de extrema promiscuidade. Diante dessa grave ameaça caberá a cada um de nós, construir nosso próprio ser usando como ferramenta a ciência material e espiritual, procurando entendimento sobre tudo quanto há. Essa mensagem destinada a uma profunda reflexão só poderia ser revelada nesse lugar sagrado que você penetrou desvendando encantos e mistérios da Natureza na dimensão espiritual, concluiu.

Regressando, a Manaus e sobrevoando a floresta, Pedro observou belas cachoeiras, praias de areia alva qual o lírio, sentiu a calmaria da floresta, o voar dos passarinhos, e a beleza das corredeiras ao longo do caudaloso Rio Negro e de seus muitos afluentes.
— Percebi seu olhar para a bela Lacina!
— Ela é encantada e mora muito distante.
— Ubiraci! Preste atenção; estamos sujeitos a colidir com uma Condor,
— Você seria capaz de namorar a Lacina?
— Não brinque com coisa séria, a gente nunca sabe...
— Ah... Ela é muito linda...
— Mas não é para seu bico.
— Nem terminou nossa viagem e estou com saudade, quero voltar para rever Lacina, sorrindo disse o comandante.

Era manhã chuvosa e Pedro estava sobre o encontro das águas do Rio Solimões e Rio Negro. Vivenciara uma grande aventura sobre a floresta encantada da Amazônia brasileira.
 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 22/03/2018
Alterado em 14/10/2020
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