Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Antonio de Albuquerque
 
Sonho de Menino

 
Um lugar perdido nos confins do sertão, um pequeno vale entre montanhas rochosas, sendo uma localidade pouco agraciado com água e o único verde existente na casa do menino era um pé de mandacaru. Ali sobrevivia uma família a qual Josué pertencia como filho único. Menino de cinco anos, que pouco conhecia do verde. Para subsistir com a família, o pai obtinha precariamente água num lugar distante, e alimentos, tipo; roedores, mocó, cactos, palma, xiquexique, mandacaru e outros parcos elementos de sobrevivência. Assim, esperançosos resistiam as intempéries do sertão na esperança de um dia reverterem a situação. A mãe do menino falava de água, chuva, vegetação e flores, coisas que o menino ainda não conhecia por haver nascido durante uma longa estiagem, embora existisse a esperança de um dia tudo vir a ser como outrora.

O dia amanheceu numa canção de alvorada dourada pelo Sol, chegando leve tal o aroma da aroeira,, foi quando Josué sentiu que o mandacaru havia florado. Daquele momento em diante Josué passou a zelar pela planta, admirando o seu verde e a flor que só abria a noite, e até nos espinhos Josué enxergava beleza. Inspirado na boniteza da flor, o menino imaginou como seria o cenário do vale se a natureza trouxesse chuva em profusão. Então, sonhando correu pelos prados e caatingas vendo um bioma desconhecido para ele, contemplando a terra vestida de capim. Caminhou entre árvorese e flores, formando assim, um formoso santuário; jurema, marmeleiro, barriguda, mandacaru, xiquexique, cactos, palmas, juazeiro, aroeira e tantas outras. Também enxergou, diversos bichinhos; preá, gambá, tatupeba, tatu-bolo, mocó, jaguatirica, onças vermelhas e gato maracajá e mais alguns. Nos lajeados encontrou a açucena e outras flores.

Os rios secos, tornaram-se perenes, uma cachoeira que secara, agora derramava água e sobre ela um arco-íris enfeitando a natureza. Um barreiro, outrora seco, transformou-se num lago de água cristalina onde tilápias e diversos peixes nadavam. Também encontrou plantações de grãos. Admirou o voo de andorinhas, maritacas, araras, papagaios e inúmeros passarinhos, com seu cantar caraterístico. Num limoeiro em flor, cantava o sabiá e distante ouvia o triste cantar da acauã. A natureza explodiu com seu poder de transformação. Era manhã e o sol espargia com intensidade sua luz sobre o verde trazendo grande beleza e encantamento, mostrando a presença da alegria e felicidade.  Josué escutava o piar dos pássaros sobre os galhos das árvores, entendendo ser a maior manifestação da natureza presente em sua vida.

Mãe e filho conversavam, na simples cozinha de chão batido ornada por um também singelo fogão a lenha e sobre as trempes um bule de café, tradição do sertão, quando escutaram trovões tangendo seus raios sobre o sertão, promovendo intensa chuva. Os pingos d’água se desprendiam sobre a terra seca tal fragmentos de vida e a felicidade ali fez morada. Radiante, a mãe dizia para o filho: Com as graças do Criador, a natureza divina está materializando seu extraordinário sonho de menino. O vento sussurrava entre as folhas da aroeira, talvez querendo revelar um segredo. No alto o Sol vermelho parecia uma manzorra de fogo. Abraçados, mãe e filho tinham os olhos nevoados de sonhos, chorando de alegria e felicidade.
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 08/02/2019
Alterado em 24/02/2019
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