Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Foto Minha

Karyn 


Cada visita a Anavilhanas é uma experiência única, e sempre que posso visito essa rica reserva ambiental de 400 ilhas coberta de plantas, sendo boa parte delas medicinais. Nas ilhas, no borbulhar das águas, percebe-se fenômenos que fogem à nossa compreensão, nada mais me assusta quando visito Anavilhanas. Teodoro, me acompanha nessas viagens ao arquipélago por ser conhecedor da floresta, rios, mistérios e segredos das águas e de civilizações que nesse lugar viveram em antiquíssimas épocas, no início da formação da bacia amazônica.

Chegamos à Ilha em Anavilhanas, três horas após o previsto, devido ao mal tempo na travessia do Rio Negro; chovia com relâmpagos, banzeiros e trovões. Navegando nossa lancha parecia uma folha de papel, mas abarrancamos em paz. E, aqui sozinho estou, porque Teodoro subiu o Rio, e só voltará amanhã. As trempes do fogão a lenha, estão acesas, e na dispensa encontrei farta alimentação. Arranjei-me sozinho por que a tarde chegava e no céu formam-se nuvens anunciando chuva. Também encontrei no salão do flutuante uma mochila com coisas de mulher, certamente alguém esqueceu e voltaria para leva-la. Coisa esquisita! Esta ilha é uma base para pesquisas e eu faço parte dela. No flutuante onde abarraquei, existe acesso para um Igapó onde se pesca bons peixes.

O flutuante é confortável, tem estrutura, e o silêncio do dia ou da noite é quebrado pelo cantar de milhares de passarinhos, pelo rumor dos botos, macacos, onças e bichos que ainda desconhecemos. As noites tornam a ilha um imenso Vergel de brilho e encantamento. Aqui próximo, existe um lago cristalino onde se pode mergulhar e pescar Tucunaré, tendo como companhia muitos botos que auxiliam na pescaria, conversando o tempo inteiro. Gosto de pescar à noite, e às vezes não durmo, porque ao regressar pela madrugada vou tratar os peixes para assa-los na brasa no dia seguinte. Aqui é assim, cada um cuida de si.

Era noite, estava há poucos metros do anzol quando avistei uma mulher que mais parecia um encantamento, de tanta beleza, e sua formosura fez mergulhar nos seus encantos. Boa noite, respeitosa jovem! A quem devo a honra da companhia? — Sou Karyn Young, respondeu. — Eu sou pesquisadora e também vim pescar, minhas coisas estão no flutuante, minha lancha subiu o Rio Negro e aqui aguardo seu regresso, respondeu Karyn. Aí eu observei que ela não havia pescado nada! E continuei pensando; — Pois é, tinha que surgir uma mulher na minha pescaria! — O que realmente estaria fazendo uma jovem de vestido longo no meio da floresta, dentro do Igapó! Mas, como já vi coisas mais estranhas na selva, calei-me, observando que ela tinha a beleza de uma deusa da mitologia grega; nunca havia visto mulher tão bela assim. Cheguei pertinho, nos cumprimentamos e ela abriu um sorriso encantador, tinha os olhos mais doces que o nascer da Lua. Convidei-a para conversar, ela aceitou, confirmando que era Bióloga a trabalho.

Contente fiquei admirando sua incomparável boniteza e ela expandiu um sorriso de ternura, com os olhos banhados de lenda, que me fez sonhar, sonhos de amor. Conduzindo seis Tucunarés, voltamos ao flutuante e me deliciei apreciando o movimento suave e elegante do seu corpo sensual. A Lua e Estrelas testemunharam aquele encontro que por certeza não foi fortuito. Felizes, sentamo-nos sobre o assoalho do flutuante e conversamos longas horas. Falamos de coisas banais, mas também sobre a história da Terra, da vida, paganismo, cristianismo, lendas e histórias, transitando pela China e Grécia antigas, assuntos que ela dissertava com maestria. Ao falar que eu era mais velho que a terra, Karyn novamente abriu um sorriso parecendo a melodia das fontes e eu mergulhei nos seus encantos.

A aurora nasceu no Oriente e o Sol surgiu com todo o seu esplendor, deitando sobre as águas e florestas sua luz dourada. O caudaloso e sereno Rio Negro corria para o Mar num fluxo interminável. Despertei numa manhã sorrindo gargalhadas de luz do sol, e na brasa preparei um suculento Tucunaré, convidando minha hóspede para a primeira refeição regado a vinho de Cupuaçu, após a ágape convidei Karyn para um mergulho no Igapó, ela aceitou de pronto e para lá rumamos pela trilha cercada de árvores e pequenos Igarapés, onde peixinhos coloridos bailavam em água transparente e sobre galhos de Palmeiras e Sororocas; colibris, bem-te-vis, canários e sauins, compunham o cenário rico e belo, onde Ipês, brancos, amarelos e azuis, se destacavam com grande beleza.

Encantados com a beleza chegamos ao lago, onde contemplamos a água translúcida e lindos Botos alegres com a nossa presença. Nos despimos e Karyn expôs seu lindo e sensual corpo, e sem pudor nos abraçamos, mergulhamos no lago e nos amamos como fazem os Botinhos e outros animaizinhos, filhos da Natureza. Sua lancha regressou e nela Karyn embarcou e num longo beijo e abraço disse-me Adeus. Com o pensamento sonhando, exclamei! Eu gostei de você, se voltares, quem sabe! Juntos poderíamos nos encantar em algo vivo da floresta, assim seriamos eternos amantes.

Teodoro abarrancou nossa lancha e de longe veio gritando na língua dos Ianomâmis, Nheengatu! — Voltei o mais rápido que pude, ainda bem que você não estava sozinho. A sua guerreira Yasi, mandou um abraço. — Melhor dizendo, aguarda sua visita para um grande festejo, disse o maldoso Teodoro. — Você bem que pode casar com Yasi, ela é a índia mais bonita da Amazônia, disse Teodoro. Não posso, Yasi é encantada. — Mas, isso não impede que ela seja sua Índia! Disse Teodoro. Segure o leme Teodoro, olha o banzeiro seu irresponsável, você fala demais, mas eu gosto de você e cuidado, olha a estibordo ... Logo mais chegaremos ao Solimões. 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 01/09/2020
Alterado em 04/09/2020
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.