Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Sonho Guerreiro
Capitulo II de V

Fabiano era agenciador de mão-de-obra escrava e cruel pistoleiro a serviço de coronéis de barranco, sendo alguns, sanguinários e cruéis. Nunca um seringueiro havia saído vivo de suas terras, por serem deles, escravos e prisioneiros até a morte. O básico para a sobrevivência do seringueiro era; feijão, farinha, conserva, sal, querosene, poronga, molambos de roupa, quinino, cachaça e outras coisas adquirido na floresta. Tudo era cobrado além do valor real. Ao descobrir essa realidade o seringueiro sentia-se enganado com uma dívida que jamais resgataria. Tentavam fugir, mas eram cassados, presos, açoitados e até assassinados. Com a morte do seringueiro a dívida não cessava e a família ficava no dever de sanar a falsa dívida, cuja primeira parcela do pagamento acontecia com a entrega da viúva ou filhas a outro homem, por carência de mulheres nos seringais. Essa era uma das malditas Leis do seringal.

A corrupção dominava grande parte das autoridades da velha república, corroída pelos maus costumes oriundos da má formação social do país. Em Manaus, capital da borracha como era conhecida na época, os ricos desfrutavam padrão de vida europeia, embora a maioria da população vivesse em completa miséria, sem assistência social nenhuma, esquecidos quais animais no meio do continente verde, lugar onde o homem aprendeu a viver, entre lagos, rios, florestas e animais ferozes, convivendo com nações indígenas, algumas que não haviam tido contato com o homem, dito civilizado, travando com eles sangrentas batalhas. Dessa forma, o seringueiro marcava o território do Amazonas fronteiriço com dez países. Dessa forma o seringueiro era também guardião do território brasileiro. Os migrantes que por Manaus passavam com destino aos seringais, não eram tratados com  respeito, visto que viajavam para o interior em porões de embarcações, junto com animais.

Canindé, uma rica e misteriosa cidade, município do estado do Ceará, em dia de festejo era também o momento de ir ao médico, o dr. Bezerra atendia a todos, tanto fazia ter ou não dinheiro. Alguns sertanejos o presenteavam com o que dispunham: cabras, galinha e outros bichos. Bezerra, como gostava de ser chamado, distribuía as doações entre as pessoas carentes e nunca se esquecia de mandar uma prenda para o leilão da paróquia do padre Paulino, que amava verdadeiramente os pobres. Com a renda obtida no leilão padre Paulino auxiliava as pessoas necessitadas, a exemplo de São Francisco de Assis, assim, Paulino era amigo de todos, fossem eles católicos, evangélicos, espíritas ou ateus, todos eram irmãos.

Sempre que atendia a dona Augusta, Bezerra dizia que receberia o dinheiro da consulta no próximo ano, era apenas uma maneira de não cobrar. Sensível às dificuldades da família de Linhares, sempre indagava se os meninos estavam indo a escola e aconselhava: — Aprender a ler e a escrever é como se livrar da senzala, libertar-se de uma masmorra, uma caverna, dos grilhões da ignorância, é sentir a luz clareando a mente, é caminhar para o conhecimento, para a libertação, e a liberdade, isso era o que mais Dona Augusta desejava para os filhos.

Ao trabalhar como empregada doméstica na casa paroquial, Augusta aprendeu a ler e a escrever, esse pequeno aprendizado lhe foi muito útil, pois quando os meninos não iam à escola por trabalharem no campo, ela os ensinava o pouco que sabia antes de colocá-los para dormir. D. Augusta tinha uma boa visão de futuro, sabendo que o jeito mais fácil de libertação seria pelo conhecimento. Linhares tinha um projeto que guardava em sigilo e falava de um irmão que morava na Ilha de Marajó, criando Búfalos. Ele comentava que o  havia se dado bem, residia numa terra cedida pelo Governo possuindo muitas búfalas leiteiras.

O sucesso do irmão o fazia pensar na possibilidade de seguir seus passos, mas temia viajar com a família. Depois, não queria ir por conta do Governo, como soldado da borracha ou de algum patrão, o plano era levar algum dinheiro mesmo que fosse um tiquinho, o suficiente para começar sem dever, o que não seria fácil visto que todo ano ficava devendo ao patrão, sem nada sobrar. Esse projeto estava em gestação somente em sua mente, não poderia nutrir falsa esperança na família, mas pensava, sendo essa a única liberdade que possuía, ninguém poderia mandar em seu pensamento, grande riqueza que o conduzia a grandes vitórias.

Próximo capítulo, a viagem. Grandes surpresas, não perca, viu!
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 17/10/2020
Alterado em 21/10/2020
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