Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Sonho Guerreiro - Capítulo IV
Capítulo IV de V
1
Naturalmente o migrante deveria ter algum conhecimento da região ou um pequeno recurso para se manter, comprar sementes até começar a produzir. Linhares tinha um plano, mas existia um detalhe que só ele e Augusta sabiam. A ideia inicial era trabalhar em algum seringal da região para conhecer e adaptar-se ao lugar; Os costumes, potencialidades, especialmente a agricultura e a criação de animais, sendo o melhor que sabia fazer. Os recursos que levava escondidinho seriam suficientes para iniciar uma pequena plantação, talvez de feijão e milho, aí daria para criar algum animal. Se realmente existia dinheiro na região, pela força produtiva do látex, teria mercado para vender sua produção, pensava acertadamente o indomável guerreiro. O problema seria como pedir a conta no seringal onde inicialmente fosse trabalhar com os filhos e mulher. Mas para isso Bezerra tomou uma providência que Linhares e Augusta guardaram em sigilo.
2
Sendo Linhares um homem prevenido, conduziu em dois matulões, farinha, rapadura, e o lendário cigarro de palha, que carinhosamente trouxe bem escondido. A farinha e a rapadura haviam sido doadas pela igreja de padre Paulino, como também algumas roupas para os meninos que andavam quase despidos. Pela primeira vez a família de Linhares viu o mar, e pela janelinha da terceira classe a família espiava o movimento das ondas, escutando e o marulho da água no casco do navio. Quando o navio aportou na belíssima cidade, de Belém do Pará, Linhares sentiu que chegara ao portal da Amazônia, uma região verde, molhada, úmida, completamente diferente do grande sertão árido, deixado para trás, e que tanto amavam. Linhares estava determinado a acolher a Amazônia como seu novo lar. Ali em Belém encantado com as belezas da cidade visitou o mercado ver o peso, as ruas Manuel Barata, Santo Antonio, Getúlio Vargas, a Basílica de Nazaré, Teatro da Paz e outros lugares históricos. Em Belém as pessoas tinham aparência e comportamento diferente espontâneo com os visitantes, que ao perceberam serem retirantes, presentearam coisas, tipo alimentação, roupas para seus meninos e os acarinhavam com olhares de afeição. Essa família não costumava receber carinho das pessoas, assim sentia-se confortada, certamente aí haja nascido seu grande amor pela Amazônia.
3
Afastando-se da belíssima Baia de Guajará, adentraram no caudaloso Rio Amazonas, berço de lendas e histórias fantásticas, Linhares admirou a floresta e as margens do Riomar, sonhando chegar a Manicoré, um lugar distante e desconhecido, mas pleno de esperança, e abraçado à família exclamou: — Esta é nossa terra prometida por Deus, e nela haveremos de vencer. Todos os nossos sonhos serão materializados, nessa floresta esplendorosa, fonte de brilho e encanto, arco-íris, seiva das belezas da vida, sublime inspiração da Natureza Divina, emocionado afirmou Linhares. — Teremos nós um pedaço de terra para trabalhar? — Perguntou Augusta. —Naturalmente que sim, respondeu Linhares. Augusta tinha sonhos; levar os filhos a escola, trabalhar na roça junto do marido e morar em sua própria casinha. Os filhos também felizes faziam planos; cuidariam de uma grande plantação e frequentariam à escola, a mãe teria uma casa, feita de madeira de primeira qualidade. O filho menor, sonhava conhecer: Onça, Sucuri, Jacaré, Macacos, rios, igarapés, índios e lagos. Assim, soltava a imaginação de criança. Todos sentiam alegria e felicidade, mas ainda teriam que transpor muitas barreiras. A família unida, estava determinada a vencer, Augusta era o ponto de equilíbrio e seu marido queria uma vida melhor para sua família.
4
Augusta estava debilitada, com pressão alta, o remédio tinha acabado e a bordo nada tinham para oferecer. Augusta era portadora de algumas mazelas decorrentes do árduo trabalho na enxada, mas não se queixava, preferindo cuidar do marido e dos filhos. Certa manhã não conseguiu levantar-se, o médico foi chamado e, mesmo sendo assistida, não resistiu e faleceu ao chegar à cidade de Óbidos no Pará. Foi um momento de tristeza para a família, pois Augusta era parte daquele projeto de uma nova vida, em um lugar de sonhos. Com a morte de Augusta, o sonho não acabou, ela havia pedido que se lhe acontecesse alguma coisa, que eles prosseguissem e realizassem o sonho da família. Augusta conhecendo sua limitação de saúde, com sabedoria anteviu sua passagem para um plano superior, reservado às mulheres guerreiras.
5
Tarde serena, no alto o sol pintava de ouro o entardecer, a água do  Rio Amazonas, tingida de sol poente, em rebojo, provocava um solene som, encantando o momento de silêncio em profunda reflexão. Numa rede de fibra, dois homens conduziam o corpo de Maria Augusta, Caminhavam lentamente subindo o barranco. Linhares seguia o cortejo amparando os filhos pelas mãos, os meninos choravam sem entender, e Linhares com os olhos rasos d’água, escutava as tristes badaladas do sino anunciando a morte de sua companheira. Os meninos caminhavam de pés descalços, eles tinham a imagem da mãe em vida, e agora guardariam a lembrança dela, desfalecida para sempre, essa era a compreensão deles. A terra espargida sobre o corpo de Maria Augusto provocava um surdo som e uma imensa tristeza; dos olhos de Linhares caiam lágrimas de dor e sofrimento. Sepultado o corpo, colocaram sobre a sepultura uma enxada, simbolizando o trabalho do agricultor. Durante o sepultamento, Linhares prometeu ir em frente e junto com os filhos transformar o sonho em realidade. Deixavam naquele lugar o corpo de Augusta, mas sua imagem estaria gravada para sempre em suas memórias. —Pai, a mãe foi para o céu? — Perguntou o filho — Certamente! —Respondeu Linhares. Os passageiros foram chamados a ocuparem seus lugares na terceira classe do navio. O sino da igreja com cadenciadas badaladas anunciava o término do sepultamento. Nunca mais a família veria seu corpo. A noite serena cobria ... o Rio e a floresta, o navio singrava as águas do lendário Rio Amazonas. Os linhares continuaram sua missão na terra prometida. 
Leia o V e derradeiro ,Capítulo, viu!
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 29/10/2020
Alterado em 01/11/2020
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