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Jeniffer
Caminhando pela Manaus antiga; casarões abandonados, castelos esquecidos pelo tempo e ruas com calçadas, ainda da época da borracha. Chovia e eu me protegia embaixo das marquises, era aurora e os raios do sol surgiam na copa das árvores centenárias. Minha única companhia era o Mestre no meu pensamento.Cheguei ao porto, antiga construção da época dos ingleses, donde saem embarcações para diversos lugares da Amazônia.
Jeniffer aguardava-me com um olhar de censura, por eu estar meia hora atrasado. Havíamos combinado, visitar os escombros de Airão, corroída por formigas no século dezenove. Jeniffer mora em Los Angelis e disse-me que viria à Manaus para eu mostrar-lhe o lugar, sem, contudo, me informar o motivo. Por sermos amigos e ela antropóloga investigativa, nada perguntei, recebendo de seu marido a incumbência de zelar por ela nessa viagem que eu ainda não sabia qual o objetivo, mas aceitei a missão.
A bordo da lancha, que nos levaria as ilhas de Anavilhanas, atamos nossas redes de forma que pudéssemos apreciar a paisagem, sentindo o cheiro d’água em rebojo e a mansidão da floresta, contemplando as praias de areia alva, e no alto observar as garças bailando, trazendo a paz e a harmonia. Belos pássaros, de aquarela, pintavam o céu enfeitado de núvens formando carneirinhos, ecoando os seus cantares característico, botos cor de rosa acompanhavam a embarcação em completa algazarra, e assim, refletíamos a grandeza da floresta do caudaloso Rio Negro e das suas águas limpas. Nesse rico e belo cenário de encanto, grandeza e mistérios, com olhos de esmeralda, Jeniffer observava com alegria os fenômenos da Natureza.
Desembarcamos numa praia deserta e seguimos pela várzea em direção as taperas de Airão. Á sombra de uma Samaúma, sorrindo, Jeniffer segurou minha mão e encostando seu corpo ao meu, senti as batidas do seu coração e sua energia vibrou meu corpo, ela olhou-me firme com brilhantes olhos verdes, dizendo: Logo, revelarei qual nossa missão nessa floresta de encanto e ternura. Beijamo-nos e permanecemos em silêncio e juntos mergulhamos em profunda recordações de vidas passadas, tal qual estivéssemos vivenciando.
Foram tantas recordações que despertamos em pranto de tristeza e alegria de tocantes momentos de vidas passadas. A dinâmica viagem a outra dimensão aconteceu em decorrência dos nossos atributos espirituais; o lugar vivenciado no passado, a energia da floresta e a força da água, materializaram o cenário em matéria de pouquíssima densidade, comandado pela força da Natureza, tendo como condutor a nossa força espiritual.
Nas antigas edificações sentamo-nos, e nos abraçamos, permanecendo em silêncio, os olhos de Jeniffir espargiam luz, e no semblante um sorriso de paz interior. Mirando nos meus olhos, disse-me: Num passado distante, juntos aqui nos foi revelado segredos da natureza e vivemos felizes algum tempo em busca de conhecimento, eu imaginando uma ciência e você outra e mal aplicada, razão de nos separarmos, por séculos, porém nesse reencontro revelarei um atributo manifestado em nós, que você também conhece. Jeniffer sussurrou em meu ouvido. —Aqui é o lugar onde aprendemos que tudo o que juntos vivenciamos, é ciência misteriosa da vida em passagens pelo Planeta Terra, e nós dois acreditamos na mesma ciência, ora demonstrada.
Uma lancha abarrancou e um barqueiro chamado Teodoro, aos gritos chamando-me de irresponsável, veio nos recolher à cidade. —Você é doido, sozinho, trazendo para lugar deserto uma moça bonita assim. —É perigoso, sabia? — Você bem sabe Teodoro, eu nunca estou sozinho, tenho o Mestre no coração, Jeniffer e eu nos conhecemos e nos amamos há milhares de anos. Nessa passagem pela Terra estamos distantes, mas bem próximos, conectados por nossos nobres sentimentos, colhendo o que plantamos pela Lei da Causalidade. A encantadora Jeniffer sorria embarcando na veloz lancha de Teodoro, que a essa altura abraçava o velho amigo, parceiro de grandes aventuras na Amazônia.