Antonio de Albuquerque
Sorrindo de alegria, num espaço sublime entre contos, encantos e poesias.
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Maitê II
Era manhã quando cheguei ao Rodway, antigo porto de Manaus. Ouvia a voz forte dos barqueiros oferecendo bilhetes para a viagem, onde os passageiros formavam filas para o embarque. Já no Rodway, eu não sabia para onde viajar, mas por certo pretendia me afastar do rebuliço da cidade grande. Liam-se numa folha de papelão: Barcos para o baixo Amazonas, Solimões, Barcelos, Santarém, Óbidos, Belém e outros lugares. Me informaram que o barco com destino as Ilhas Anavilhanas, zarparia as sete horas da manhã e ao chegar à embarcação, algumas redes já estavam atadas no salão do barco.

Embarquei, atei a minha rede e agasalhei os meus pertences embaixo da rede, numa boa posição que pudesse apreciar a correnteza do Rio Negro, a exuberante paisagem das praias de areia alva e a esplendorosa floresta. Suavemente, o barco navegava e a brisa da manhã acarinhava meu rosto assustado pela misteriosa aventura, ora iniciada. Admirando as belezas naturais do rio, me deliciando com o distanciamento da cidade, sentia-me liberto tal qual um passarinho. Pensamentos vagueavam na minha mente congestionada, carregando sentimentos libertos. Contemplei as praias, florestas, as cajaranas floradas, e a revoada das araras bailando sobre o rio. Distante da cidade, penetrei na magia da água, banhando o meu coração na ternura que alenta a vida.

Ao meu lado viajava uma jovem índia de exuberante beleza, que olhando-me com um misterioso sorriso, tocou meu coração, revelando ser uma mulher diferente, fazendo-me encantado, mergulhei na sua formosura e meiguice, desnudando seu interior. Nos cumprimentamos; o seu nome Maitê, sendo o objetivo da sua viagem, participar de uma celebração num lugar onde existiu uma milenar civilização da qual ela fora partícipe. — Se você quiser vir comigo será meu convidado, disse. Prontamente respondi que iria em sua companhia com prazer. Maitê, com um sorriso misterioso me abraçou com ternura e eu senti tudo que um homem pode desejar de uma mulher, tão sensual e bela. Ela então, me revelou — Meu nome está ligado a esse povo que aqui existiu! E, sempre existirá em meu coração! Seguimos viagem até o barco abarrancar e nos deixar numa praia, para na volta nos recolher. Assim acertamos com o barqueiro. O barco seguiu viagem e abraçados, ficamos acenando até o barco sumir na curva do rio. No alto o Sol brilhava parecendo uma bola de fogo.

Adentramos na mata densa, seguindo uma trilha enfeitada de sororocas, palmeiras e Samaúma, entre tantas outras árvores nativas e Igapós e igarapés, entre Ipês amarelos. Em silêncio, Maitê caminhando a frente, tendo os passos leves qual uma Jaguatirica, mostrando conhecimento da floresta, a beleza e sua meiguice e sensualidade, o movimento dos seus quadris lembrava o bambolear do voo de um Condor dos Andes. Elegante, Maitê caminhava parecendo não tocar nas folhas caídas. Pássaros de linda plumagem pousavam na castanheira, Sauins pulavam nos galhos, gavião-rei nos observava e o vento suave balançava as flores da milenar maçaranduba florada. Esse belo lugar chamou a atenção e sentamo-nos em contemplação. Era noite fria e nos abraçamos, éramos nós dois e a esplendorosa floresta e seus vibrantes mistérios, nosso corpo vibrava de felicidade e prazer ... Contemplamos o céu atapetado de astros e estrelas ... não vimos o tempo passar.

Súbito! Uma manhã surgiu e num ritual de cânticos, louvores, alegria e prazer, milhares de pessoas reverenciavam sua rainha. No centro de um lindo vergel, formou-se um arco-íris, e entre suas cores enxerguei uma mulher revelando-se, Maitê, Deusa daquele povo, há milhares de anos. De mãos dada, sorrindo de contentamento, com Maitê, caminhei em direção Rio Negro, convicto da existência dos mistérios e segredos da natureza. Com os olhos pejados de lágrimas e o coração banhado de luz e sonhos, adquirimos a certeza de que nem tudo é matéria densa como imaginamos, porque acreditamos que entre a Terra e o Céu, existem infinitos mistérios e moradas do Grande Arquiteto do Universo. O barco surgiu na margem do rio, os passageiros acenavam de alegria e eu abracei Maitê, querendo dizer mágicas palavras, mas só me lembrei Amor...
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 02/08/2021
Alterado em 03/08/2021
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